Trecho Perdido

Década de 90...

Ontem a noite tava fria, como um presságio do que me esperava. Frio esse que nenhuma roupa pudesse me aquecer, parecia atingir direto a minha alma, como se eu me encontrasse nu em meio a um inverno vigoroso.
Não tinha outra escapatória, eu me sentia dominado pelas sombras, elas pareciam tremer sob minha presença, elas pareciam querer me tocar, se fundir a mim. Não, não eram simples sombras, parecia a escuridão em si emanando algo maléfico e destrutivo para dentro de mim, mas na hora apenas ignorei e apressei meu passo para chegar em casa.

Prostituta! Como ela pode ter feito isso comigo? Eu que dei o sangue que não era meu, vendi a alma para dar conforto a ela, e ela me trai assim?
Ao chegar em casa a encontrei na cama com outro. Ela tentou se explicar, ele tentou fugir, mas eu fiquei sentado na cadeira de frente para a porta com a cabeça baixa, como se estivesse chorando, mas eu estava sorrindo.

Não ouvi os 10 minutos de argumentos que eles falavam sem cessar. Levantei-me e só assim eles viram o sorriso estampado no rosto. Pensaram que eu tinha entendido, e se acalmaram. Pensaram que continuaria sendo a mesma coisa, pensaram que eu apenas não faria nada como sempre fiz em minha vida. As sombras tinham me alcançado, mas eles não sabiam...

Estendi minha mão ao rapaz para um cumprimento. Ele ficou paralisado por um tempo, mas ele não tinha escolha, e mesmo hesitando me deu a mão para um cumprimento... Pobre rapaz...

Segurei a mão dele e com a outra que estava em meu bolso tirei uma caneta que usei durante anos para escrever, agora usara para derramar um sangue maldito que se encontrava nas veias daquele ser. Assim enfiei a caneta no pescoço dele – Pobre rapaz – não teve chance de defesa, e morreu ali mesmo, encima do carpete de minha sala de estar. Sangrou até a morte.

Gritos, gritos e mais gritos, ela não parava de gritar, pensei apenas em uma coisa “Nunca vi alguém gritar enquanto perde os dentes”, mas até que fazia tempo que eu não escutava uma canção tão bela, e assim desferi vários murros contra ela a fim de deixar apenas sangue na boca dela. Ela chorava se debatia para se livrar de meus golpes, mas era inútil, eu me sentia mais forte, mais hábil, tinha a vontade de matar no meu sangue agora. Seu sangue preenchia toda minha mão e eu a arrastei para o quarto de nosso filho que chorava agora em seu berço – Vagabunda – Seu legado de um sangue sujo não poderá continuar nessa terra – Vadia – E assim em meio a insultos sufoquei nosso filho até a morte e joguei nos braços dela, que chorava cada vez mais. Seu choro parecia derramar sangue, estranho que o sangue não parecia ser dela, parecia ser meu, parecia ser todo aquele sangue que eu dei para cuidar de tudo. Já não me importa, fui até a cozinha e peguei um facão, devo ter apunhalado ela umas cinqüenta vezes antes que ficasse satisfeito.

Sintonizei o som na rádio e fui tomar meu banho para relaxar um pouco, terminando o banho vesti uma roupa coloquei minha fiel caneta no bolso e saí em busca de um bar que parecesse acolhedor. Sentia-me livre aos ventos da noite, sentia-me agora aquecido, sentia-me livre, mas também me sentia só, a realidade do fato começava a cair em minha consciência agora.


Joe Hortis, 22 de novembro de 1992

Noite

O vento frio da noite já não me vem trazendo seu clima fúnebre relaxante, agora ele chega aos meus ouvidos trazendo um grito de agonia sem fim, o qual não me deixa pregar os olhos em um simples piscar. O céu não me traz sua beleza, o sorriso da lua ao lado dos brilhos estrelares foram apagados por uma tempestade de nuvens de pura tenebrosidade a qual não me deixo despregar os olhos, como se estivesse a espera de um raio para romper em pura ira o céu em um corte que me atinja como uma lâmina e me parta em pedaços assim como foi feito ao meu coração.


Vitor Lee


 

Edição do site feita por Dorian | Textos feitos por Vitor